quarta-feira, 31 de agosto de 2011

troca.

tá vendo aquele pedaço de céu?
desenha ele dentro de mim
prometo que te sussurro nuvens
alaranjadas

domingo, 28 de agosto de 2011










Que este coração toscamente enxertado
Com as agruras de um patético sofrimento
Neste peito de lata batendo apertado
 Feneça em glorioso tormento
E que todas as verdades escritas sejam
 No piso frio das saudades
No acaso fatídico que elas ensejam
Na dureza febril das deslealdades
Em letras brilhantes no outdoor da praça
Ao som deste meu riso histérico, insano
Em badaladas retumbantes cheias de graça
 Do sino repicando numa igreja qualquer
Como constatação torturando ano a ano:
NÃO-TE-QUIS, NÃO-TE-QUER, NÃO-TE-QUIS, NÃO-TE-QUER.

Joyce K.
23/08/2011.

 
O sino toca
descendo as ruas mulheres vestidas de manicômio
precipitam o som
na luz do dia os pés gritam urgências
e o sino toca esquecido por aqueles que querem amor
o tempo passa
e não há maior liberdade do que não ser amada

dani carrara
28. 08.2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

as palavras coloridas
mancharam os olhos
das meninas que enxergam
a margem da lágrima
:quando lia aquele poema
a testa enrugava. o lápis desenhava caretas. 

 transformadas borboletas

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

(marta maria perez)


atirei pedras
nos ouvidos do mundo
colhi palavras polidas
sussuradas de bocas distantes

a mão pesa mais que a pedra

no sono que tenho quando
te  finjo  andar de bicicleta.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

falta que convém
nas árvores desta rua
os galhos passam pernas
entrelaçados nos meus olhos

terça-feira, 16 de agosto de 2011

imagem net

provaremos as ilhas e o mar

sei que em alguma noite
em algum quarto
logo
meus dedos abrirão
caminho
através
de cabelos limpos e
macios


canções como as que nenhuma rádio
toca


toda a tristeza, escarnecendo
em correnteza.





reviravolta


ela dirige para a vaga no estacionamento enquanto
eu me escoro contra o pára-choque de meu carro.
ela está bêbada e seus olhos estão molhados de lágrimas:
“seu filho da puta, você trepou comigo quando não
estava a fim. Disse pra eu continuar ligando,
disse pra eu me mudar pra perto da cidade,
e então me disse pra deixar você em paz.”

tudo muito dramático e eu gostando daquilo.
“claro, bem, o que você quer?”

“quero falar com você. Quero ir pra sua
casa e falar com você...”

“estou com alguém agora. Ela foi buscar um sanduíche.”

“quero falar com você...demora um pouco pra superar as coisas. Preciso de mais tempo.”
“claro. Espere até que ela saia. Não somos desumanos. Podemos tomar um drinque juntos.”

“merda” ela disse, “oh, merda!”

pulou dentro do carro e arrancou.

a outra apareceu: “quem era aquela?”

“uma ex-amiga.”

agora ela se foi e estou aqui sentado e bêbado
e meus olhos parecem molhados de lágrimas.
está tudo muito silencioso e sinto como se um arpão
estivesse atravessado no meio das minhas tripas.

caminho até o banheiro e vomito.

piedade, eu penso. Será que a raça humana não sabe nada
sobre piedade?


um poema quase feito



Eu vejo você bebendo numa fonte com suas
minúsculas mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas
elas são pequenas e a fonte é na França
de onde você me escreveu aquela última carta e
eu respondi e nunca mais obtive retorno.

você costumava escrever poemas insanos sobre
ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta, e você
conhecia artistas famosos e muitos deles
eram seus amantes, e eu escrevia de volta, está tudo bem,
vá em frente, entre na vida deles, não sou ciumento
porque nós nem nos conhecemos. estivemos perto uma
 [vez em
New Orleans, metade de uma quadra, mas nunca nos
[encontramos,
nunca um contato. assim você seguiu com os famosos,
[escreveu
sobre os famosos, e, claro, descobriu que os famosos
estavam preocupados com a fama deles - não com a jovem e
bela garota em suas camas, que lhes dava aquilo, e
[que acordava
de manhã para escrever em caixa alta poemas sobre
ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles nos
[disseram,
mas ao ouvi-la eu já não tinha tanta certeza. talvez
fosse a caixa alta. você era uma das melhores poetas e eu
disse para os editores, "publiquem-na, publiquem-na,
[ela é louca, mas é
mágica. não há mentira em seu fogo". eu te amei
como um homem ama uma mulher que jamais tocou,
[para
quem apenas
escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia
[ter te
amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala
[enrolando um
cigarro e ouvindo você mijar no banheiro,
mas isso não aconteceu. suas cartas ficaram mais tristes.
seus amantes te traíram. criança, escrevi de volta, todos os
amantes traem. isso não ajudou. você disse
que tinha um banco em que ia chorar e que ficava numa
[ponte
 e a ponte ficava sobre um rio e você sentava no seu banco de
[chorar
todas as noites e descia o pranto pelos amantes que
te machucaram e te esqueceram. escrevi de volta mas não
[obtive
qualquer retorno. um amigo me escreveu contando do seu
[suicídio
3 ou 4 meses depois de consumado. se eu tivesse te
[conhecido
 provavelmente teria sido injusto com você e você
comigo. foi mesmo melhor assim.

Charles Bukowisk.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

(Raquel, 2011)





no vazio da alma
contemplo borboletas
enquanto desenho no seu rosto

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

é preciso jogar tudo fora
começou pela saliência na nuca
estranha


a mim fora.

não deveria escrever em dias quentes
as tintas suam.
fui comprar travesseiro,
(pra ver se melhora as dores nas costas)
fiquei perdida no meio dos cílios
domésticos, úteis.
estou sem vontade de nada
sinto alguém puxando meu pescoço
arrancando
com as mãos
engraçado que quando
duas semanas

tenho pouca força
ainda espirro